quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Lírios Possíveis-Poesia temática de Gabriel Bicalho
FOTOS:
Uma das telas de Deia leal para a capa de Lírios Possíveis.
Capa do livro.
Gabriel Bicalho, no lançamento , Festinverno-Ouro Preto/Mariana, julho 2009(Fonte:www.jornalaldrava.com.br/pag_noticias.htm(navegue até lá e saiba mais)
Lírios Possíveis-Poesia temática de Gabriel Bicalho
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
"Ah meu irmão sombrios
(...)
Ah meu irmãos das sombras
(...)
( o primitivo selvagem
ainda habita em nós:
o sangue ferve nas veias )"
Gabriel Bicalho, in"fumaça nos céus"
Lírios Possíveis são todos aqueles , os conhecidos, os imagináveis e os difícieis de se imaginar-embora representados na arte aldravista de Deia Leal, bem à nossa frente, em cinco lindas versões liliáceas , na capa do poemário de Gabriel Bicalho,assim denominado.
Sempre admirei a maneira peculiar desse Poeta encarar o mundo e o redimensionar ou interpretar em versos.Esse seu novo livro(*),lançado dia 16 de julho , na cidade onde mora, Mariana, em Minas Gerais, no Brasil, tem uma característica marcante:é temática, não um mero feixe de poemas já escritos e reunidos por esse ou aquele motivo.Certa vez, Drummond me escreveu que nunca escrevera um livro -em vida, pois deixou poemas póstumos, onde o erotismo , por exemplo,foi base de inspiração ao longo de um tempio dimensionado intimamente.Contou-me, em carta-com a letra miúda e e elegante, que apenas juntava o que ia publicando nos jornais , aqui e ali.Não é esse o caso do mineiro Gabriel Bicalho (*).
O livro trata , de forma contundente, mas terna, da marginalidade-linguagem , incidents cotidianos, condições de vida, sentimentos e emoções.Somente um olhar de humanista poeta alcançaria tal precisão o des/gosto dessa gente menos favorecida..Gabriel Bicalho derrama-se, em Lírios Possíveis, na marginália (Ó tempora, ó mores!)de uma violência que pulsa nas veias dos oprimidos, o submundo no coração dos revpltados, a angústia e a fome de ser apenas isso:uma pessoa quetem direitos garantidos pela Leis dos Homens-que nem sempre as cumprem- e pelas leis Divinas.
Mergulha-se num mar de marginais , para quem o temor está dentro do paladar, muitas
vezes, com gosto de sangue, a escorrer pelos brônquios e exsudar-se da pele suja, suada de fugas e ataques...Pipocar de tiros a ensurdecer e rebentar os tímpanos-até os da imaginação.
O poeta Gabreil observa, registra, poetiza.Os versos fazem baliza e passam no teste de endurecimento que não perde a ternura, na lógica guevariana- pois ao sol da verdade inconteste, amolece e explode em estrelas, quais os tiros nas favelas :metáfora mui bela , quais os próprios lírios im/possíveis do poeta .
Todas as letras são minúsculas, a partir dos títulos.Não sobra nada, nada falta;anesse poemário, nem um finema é vão.os sinais gráficos ajudam a compor a progressão, a supressão.
Ao tomar na boca da alma, a primeira pessoa, em alguns dos discursos poéticos dos personagens que ali dimensiona, não eixa de tornar irmãos os miseráveis-tão frutos quanto ele próprio, de um mesmo Criador.
A edição é primorosa, em papel couché de boa gramatura, encomendada pela editora Aldrava Letras e Artes, em Mariana, às oficinas gráficas da Editora Dom Viçoso..Gabriel Bicalho, a quem eu conhecia como das nuvens,da manhã na roça,das muitas faces marianenses, e que me instava a posar, borboleta que sou, pode agora ser aplaudido sob novo título:poeta dos míseros, que ao seu escrever compassivo, não escapam de um novo conceito da beleza que apenas os bardos podem emprestar à tragédia humana , com toques de universalidade, mesmo que aponte o dedo para sinalizar brasileiros marcados por uma sovciedade de classes tão díspares, desprovidos de tantos direitos, até da Vida,quando precocemente roubam-lhes o precioso Bm.Um direito quase vão, nessas suas pobres histórias sem História.Mas que riquíssimos versos...
Clevane Pessoa de Araújo Lopes.
E eu não poderia concluir a prosa, sem lhe falar em versos:
A Gabriel Bicalho, sobre Lírios Im/Possíveis
Poeta ,
fal(h)as
em tentar mo(st)rar
na PORTA da brutal/idade
da fatal/idade
em qualquer tempo de existirem,
os que des/vivem,
com tais metonímias puras e lapidadas.
Somente consegues
criartear
no tear
do teu parnaso interior
metáforas tão belas
quanto fazer estrelas
na favela
ao pipocar das tuas metralhadoras
de ouro puro
que lançam constelAÇÕES
na escuridão dos miseráveis...
Com afetoe admiração:
Clevane Pessoa
Observação:
Aqui, eu optei por transcrever as notas que escrevi ontem , deitada por ordem médica, enquanto relia Os Lírios Possíveis,que me chegaram às mãos trazidos pela Poeta e também editora Tânia Diniz, nas Terças Poéticas de Brenda Mars (01/09/2009), sobre Poesia Sonora, onde fui convidada a interpretar -com gosto e deliciada-uma estrofe mais longa de "O "Mito da Mulher Poliglota".Desde que o livro foi lançado , queria lê-lo.À porta da AMI, em maio ou junho, mostrei-lhe a boneca de meu Olhares ,Teares Saberes, para que conhecesse o trabalho do amigo paranaense Kiko Consulin, poeta radicado no Maranhão, que o editou e me presenteou- pois editores gostam de cinhecer livros.Ele o folheou, aprovando e mencionou que iria publicar o seu, os olhos brilhando.
Quando estive em Mariana, para a tocante cerimônia de posse na ALB, deixei para os amigos aldravistas, em 30 de maio (**)exemplares desse meu livro novo.Gostamos, os poetas, de trocar impressões.E foi mesmo para nada deter o fluxo de minhas observações sobre Lírios Possíveis, que , ao final, prefiro repassar , escritas por outrem , as notas biográficas do grande poeta.
Eis então, a Biografia do Mestre em poetizar a vida:
"Gabriel José Bicalho, nascido em Santa Cruz do Escalvado, Estado de Minas Gerais em 14 de janeiro de 1948.
Teve sua formação cultural na vizinha cidade de Ponte Nova, onde residiu por muitos e muitos anos, desde a infância. Como funcionário do Banco do Brasil, morou em diversos municípios até se radicar definitivamente na histórica cidade de Mariana – a Primaz de Minas. Colaborou em diversos órgãos da imprensa, inclusive no “Suplemento Literário de Minas Gerais”.
Apareceu em livro pela primeira vez na antologia poética “Vôo Vetor”, da Editora do Escritor – SP em 1974, ano em que lançou seu primeiro livro individual de poesia “Criânsia”.
Obteve prêmios ou menções especiais e honrosas em numerosos concursos, sobressaindo-se a Menção Especial de Poesia que a União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro, conferiu a Criânsia, no Prêmio Fernando Chinaglia II em 1972.
Participou de várias antologias poéticas e têm poemas publicados em obras didáticas, revistas culturais impressas e eletrônicas.
Premiado no Concurso nacional de poesia - Literatura para Todos - MEC/2006, com o livro de poesia aldravista “Caravela – redescobrimentos”, entre milhares de livros, foi o único poeta selecionado de Minas Gerais para fazer parte da coleção do Ministério da Educação “Programa Brasil Alfabetizado”.
“Sua poesia tem um caráter singular e especial – a de aproximar o leitor do mundo da poesia, às vezes falsamente considerado difícil, mas na verdade aberto a qualquer um que queira experimentar seus prazeres. Um livro com textos densos e instigantes para prender o leitor do começo ao fim e fazê-lo raciocinar sobre o que sente ao ler cada um dos poemas escritos com apaixonada inspiração” (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade - Ministério da Educação).
Autor também de Euge, poeta! (1984), Poemas in: Aldravismo – a literatura do sujeito (2002), Apesar das nuvens (2004) e Enquanto sol - senda 02 de nas sendas de Bashô (2005) e livro de poesia: Beiral antigo (setembro/2007).
Gabriel Bicalho é grande incentivador de cultura em Minas Gerais , no país e estrangeiro. Promoveu, quando gerente da agência local do Banco do Brasil, exposições de artistas plásticos nas décadas e 80 e 90. Incentivou e incentiva novos talentos na poesia para divulgação de literatura e aprimoramento na arte de escrever. Criou jornais de divulgação literária em Mariana, dos quais se destaca o Jornal Aldrava Cultural que já está no seu oitavo ano de produção ininterrupta.
De sua obra, vale destacar o livro Caravela – redescobrimentos, 2006, premiado no Primeiro Prêmio Literatura para Todos, do Ministério da Educação e traz poemas que velejam muito além da pós-modernidade.
"É aldrávico esse Gabriel. Observador, sim, mas não só espectador. Aí ele traça a diferença que lança a aldrava na poesia. Bater, bater, bater, até que alguém venha abrir a porta do sentido que se deseja. Nada ensimesmado, nada autista, nada fora de contexto como os pós-modernistas de academia. O elitista “espectador atento” é chamado a sair da clausura ditada pelo imperialismo cultural das abraliques, das uebês, das academias, das congressites dos homens e mulheres de capa preta das ifes e ieés, para se popularizar, sem transformar-se em bunda, e dedicar-se a “ouvir o mar no marulhar ou ver o mar ao mar olhar”. (Donadon-Leal 2002).
Por esse fato, o livro de Gabriel foi premiado para ser livro de alunos recém-alfabetizados.
Embora sem pretender superar qualquer tendência, a superação desse autismo criado pelo endeusamento do sujeito pós-moderno, desinstitucionalizado para ser servido pelas instituições, é inevitável, e pode ser pensada na inconveniência de batidas insistentes das aldravas nas portas imperiais, que não se abrem para as cabeças interioranas, mas que, por não se abrirem, distanciam-se tanto do mundo em movimento, aldrávico, de batidas renitentes, de movimentos de corpos em rituais de acasalamento, que não há como dizer mais em revisitar o passado, como querem os umbertos, em parodiar ou ser interlocuções de minorias, ou ver somente o texto e o intertexto. O aldravismo é discursivo e interdiscursivo. O discurso da cartilha escolar dos anos 60, da insistência silábica da família “ra - ré - ri - ró - ru”, toma o discurso da incerteza do futuro do pretérito, para construir o discurso das possibilidades ramificadas, próprias do reconhecimento das vozes polifônicas dos discursos: “ramaria / remaria / rimaria / romaria / rumaria”, num conjunto de substantivados coletivos, ecos polifônicos das navegações dáblio-dáblio-dáblio. É a superação do texto. É a compreensão do mundo dos discursos como negação da pretensiosa idéia de interpretação. Gabriel não é só poeta, ele é craque na poesia. (Donadon-Leal-2002)
– Foi fundador e diretor cultural do Jornal “CIMALHA” em 1997 e do folheto literário “4 ou mais poetas” também em 1997.
– Presidente da Associação Aldrava Letras e Artes.
– Membro da Academia Marianense de Letras e da Academia Barbacenense de Letras.
– Cônsul em Mariana de Poetas del Mundo.
– Delegado da União Brasileira de Trovadores - Sessão Mariana, MG
– Vice-Governador do Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais em Minas Gerais.
Fonte:
http://academialetrasbrasilmariana.blogspot.com/
Postado por José Feldman, in http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/04/gabriel-bicalho-1948.html
(**)Mais:
POIETISAS_Llobus_Clevane - 45 visitas - 7 set.Aqui, antes minha posse na Academia de Letras do Brasil-ALB/Mariana, cadeira número 11, Laís Correa de Araújo, ... Em 30 de maio de 2009-Mariana-MG ...
Postado por clevane às 19:11 0 comentários Links para esta postagem
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