Em breve seremos todos pichadores
Carlos Lúcio Gontijo
O ser humano cultiva o vezo ruim
de maldizer ou ter inveja
de todo semelhante bem-sucedido
que lhe sirva de exemplo.
Claro que estamos felizes com o resultado de nosso trabalho literário iniciado, editorialmente, no ano de 1977, com o lançamento do livro de poemas intitulado “Ventre do Mundo”. De lá para cá, foram mais 12 livros (poesia, prosa, romance), editados com a ajuda de alguns bons amigos, meu pai José Carlos Gontijo, diagramadores, ilustradores, a revisora Berenicy Raelmy e não raro com sacrifício financeiro pessoal, sob o absoluto discernimento de que tínhamos (e temos) que pagar o preço exigido pelo nosso sonho literário.
Nosso relativo e modesto sucesso não apaga de nossa memória fatos que tão bem sinalizam a indiferença que existe no tocante à literatura, cujo gosto é tão malcultivado no Brasil. Nada mais triste, por exemplo de que estar distribuindo livros e dando autógrafos em comunidade de baixa renda e constatar que na fila tem funcionária pública (que, ao contrário dos mandatários eleitos, reconhece a importância da leitura) solicitando livro com dedicatória destinada à biblioteca da cidade em que trabalha. Cena mais comprovadora de desapreço institucional e desvalorização do trabalho do escritor talvez nem exista.
O certo mesmo é que já passamos por tudo na área literária. Houve até professor universitário que, se dizendo nosso amigo, colocou-se como primeiro na fila para a sessão de autógrafos de um de nossos livros. Pagou normalmente e, depois de encerrado o evento, cometeu a deselegante e inaceitável ousadia de nos solicitar o dinheiro de volta, sob a alegação de que entrara na fila apenas como maneira de “atrair” os demais presentes .
Muitos foram os prefácios que fizemos para livros que jamais foram lançados, pois seus autores não conseguiram driblar as pedras do caminho editorial. Autores amigos há que só lançaram seus livros já com idade avançada, apesar de suas obras estarem na gaveta tempos a fio. Nosso saudoso e querido amigo José Cândido Ferreira, falecido em 2008, com 100 anos, só conseguiu editar seu “Eu, candeeiro de boi” aos 88 anos.
Editar é, realmente, tarefa hercúlea. É a prova de fogo de todo e qualquer intelectual. Sem viver ou passar por essa experiência, independentemente de se nos apresentar como jornalista de esplendorosos artigos, político de belos discursos, professor de indiscutível cultura, cientista detentor de notável saber etc., o sujeito pode ser tudo – menos escritor.
Já estamos pensando em escrever nosso 14º livro (o romance “Quando a vez é do mar”). Estão prontos os poemas com os quais abriremos os capítulos, demos início a algumas anotações inerentes ao enredo e convidamos o poeta Antônio Fonseca (membro da Academia Betinense de Letras – ABEL) para prefaciá-lo, caso venhamos a obter êxito em nossa empreitada.
Dessa forma, diante de tantas dificuldades, nossa participação no meio literário se resume na disponibilização de nosso site de livre acesso na internet, onde toda a nossa obra se encontra postada; nos livros e artigos que escrevemos; na distribuição gratuita de exemplares que realizamos junto a bibliotecas comunitárias, escolas rurais e entidades como a “Borrachalioteca”, que, como o nome nos sugere, funciona dentro do espaço de uma borracharia, em Sabará, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, sob a direção de seu fundador Marcos Túlio Damascena, um jovem consciente de seus deveres de cidadão e ao mesmo tempo idealista.
Definitivamente então, sob o nosso ponto de vista, não cabem vaidade e “empavonamento” no duro exercício da atividade de escriba em país onde são escassos os leitores em potencial e, ainda assim, muitos deles nada leem, uma vez que se encontram prisioneiros, como se desprovidos de formação educacional fossem, da moderna cultura de imagem, que de maneira avassaladora propaga o vazio de palavras e vai nos reconduzindo à era das cavernas. Não demora muito e estaremos nos comunicando com desenhos e rabiscos nas paredes. Ou seja, em breve seremos todos pichadores!
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br
Carlos Lúcio Gontijo
O ser humano cultiva o vezo ruim
de maldizer ou ter inveja
de todo semelhante bem-sucedido
que lhe sirva de exemplo.
Claro que estamos felizes com o resultado de nosso trabalho literário iniciado, editorialmente, no ano de 1977, com o lançamento do livro de poemas intitulado “Ventre do Mundo”. De lá para cá, foram mais 12 livros (poesia, prosa, romance), editados com a ajuda de alguns bons amigos, meu pai José Carlos Gontijo, diagramadores, ilustradores, a revisora Berenicy Raelmy e não raro com sacrifício financeiro pessoal, sob o absoluto discernimento de que tínhamos (e temos) que pagar o preço exigido pelo nosso sonho literário.
Nosso relativo e modesto sucesso não apaga de nossa memória fatos que tão bem sinalizam a indiferença que existe no tocante à literatura, cujo gosto é tão malcultivado no Brasil. Nada mais triste, por exemplo de que estar distribuindo livros e dando autógrafos em comunidade de baixa renda e constatar que na fila tem funcionária pública (que, ao contrário dos mandatários eleitos, reconhece a importância da leitura) solicitando livro com dedicatória destinada à biblioteca da cidade em que trabalha. Cena mais comprovadora de desapreço institucional e desvalorização do trabalho do escritor talvez nem exista.
O certo mesmo é que já passamos por tudo na área literária. Houve até professor universitário que, se dizendo nosso amigo, colocou-se como primeiro na fila para a sessão de autógrafos de um de nossos livros. Pagou normalmente e, depois de encerrado o evento, cometeu a deselegante e inaceitável ousadia de nos solicitar o dinheiro de volta, sob a alegação de que entrara na fila apenas como maneira de “atrair” os demais presentes .
Muitos foram os prefácios que fizemos para livros que jamais foram lançados, pois seus autores não conseguiram driblar as pedras do caminho editorial. Autores amigos há que só lançaram seus livros já com idade avançada, apesar de suas obras estarem na gaveta tempos a fio. Nosso saudoso e querido amigo José Cândido Ferreira, falecido em 2008, com 100 anos, só conseguiu editar seu “Eu, candeeiro de boi” aos 88 anos.
Editar é, realmente, tarefa hercúlea. É a prova de fogo de todo e qualquer intelectual. Sem viver ou passar por essa experiência, independentemente de se nos apresentar como jornalista de esplendorosos artigos, político de belos discursos, professor de indiscutível cultura, cientista detentor de notável saber etc., o sujeito pode ser tudo – menos escritor.
Já estamos pensando em escrever nosso 14º livro (o romance “Quando a vez é do mar”). Estão prontos os poemas com os quais abriremos os capítulos, demos início a algumas anotações inerentes ao enredo e convidamos o poeta Antônio Fonseca (membro da Academia Betinense de Letras – ABEL) para prefaciá-lo, caso venhamos a obter êxito em nossa empreitada.
Dessa forma, diante de tantas dificuldades, nossa participação no meio literário se resume na disponibilização de nosso site de livre acesso na internet, onde toda a nossa obra se encontra postada; nos livros e artigos que escrevemos; na distribuição gratuita de exemplares que realizamos junto a bibliotecas comunitárias, escolas rurais e entidades como a “Borrachalioteca”, que, como o nome nos sugere, funciona dentro do espaço de uma borracharia, em Sabará, município da Região Metropolitana de Belo Horizonte, sob a direção de seu fundador Marcos Túlio Damascena, um jovem consciente de seus deveres de cidadão e ao mesmo tempo idealista.
Definitivamente então, sob o nosso ponto de vista, não cabem vaidade e “empavonamento” no duro exercício da atividade de escriba em país onde são escassos os leitores em potencial e, ainda assim, muitos deles nada leem, uma vez que se encontram prisioneiros, como se desprovidos de formação educacional fossem, da moderna cultura de imagem, que de maneira avassaladora propaga o vazio de palavras e vai nos reconduzindo à era das cavernas. Não demora muito e estaremos nos comunicando com desenhos e rabiscos nas paredes. Ou seja, em breve seremos todos pichadores!
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista
www.carlosluciogontijo.jor.br
Depois de conviver por mais de 35 anos com a palavra, hoje não tenho dúvida em afirmar que não é a publicação de livros que faz o escritor. Resolvi um dia partir para os Folhetos Cadinho RoCo e hoje se algum editor quiser publicar o meu trabalho terá sim é que me achar. Passei, por força da necessidade, a não mais ficar dependente da publicação de um livro.
ResponderExcluirCadinho RoCo