segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ronaldo Werneck, Poeta del Mundo em Cataguazes


Jornal do Brasil publica a texto de Fábio Lucas sobre o livro Minerar O Branco, de Ronaldo Werneck neste sábado, 20 de junho, Caderno Idéias.

Transcrevo a reportagem, a seguir:

Ronaldo Werneck recria seu mundo indo às fontes memorialísticas

Fábio Lucas*, JB Online


RIO - Minerar o branco (ArtePauBrasil. 304 páginas. R$ 40) ficará entre as surpresas de boa leitura nos últimos tempos. O que nos espanta em Ronaldo Werneck, na busca interminável da expressão poética, é sua capacidade de ventilar o texto com o seu poder de criação, único, festivamente original.

Explique-se: quando já envelheceram, pela exaustão, os signos gráficos jogados sobre a página branca, à procura de motivação visual, quando também os trocadilhos, bons e maus, e recursos aparentados, como o quiasmo, a paronomásia e o oxímoro, todos advindos da oficina barroca, quando tudo denuncia fadiga, tautológica, tediosamente repetitiva, eis que Ronaldo Werneck abre os salões da inventividade e recria o seu mundo, indo às fontes memorialísticas.

Rememorizações da infância, dos amigos, dos autores lidos e conhecidos, dos filmes e de seu elenco, de Cataguases e do Rio Pomba, das viagens e regressos, no país e no exterior. Enfim, Ronaldo Werneck, como de costume, arma a orquestração verbal e gera a própria mitografia, a vertente dos poemas.

Não é tarefa simples. Antes, produto de invenção, associada a vasto repertório acumulado. Há nos dois livros englobados em Minerar o branco – Preto nu branco e Tempos de mineração – momentos de virtuosismo comunicativo de alta dimensão.

O leitor se deixa embalar na fluência discursiva, festa de referências cultas, de coloquialismos populares, de representações simbólicas. As palavras ajeitam-se em forte expressão lírica e os poemas agregam tópicos da literatura em espanhol, em inglês, em italiano, em francês coloquial ou arcaico, sempre sedutores, cintilantes. Transbordam de significados.

O projeto gráfico ajuda o poeta a comunicar-se. Exemplo: “Dedicatória”, junção do visual e do verbal. “Zoeira e alfaia” testemunha a alegria da criação: o riso anda solto no livro, cuja parte dramática é igualmente densa. “Seis anos procêis” é puro jogo vocabular, no rumo daquele mundo extraordinariamente criador da mente infantil. A seguir, vem “Cançãozinha para Maria Teily” outra composição lítero-visual surpreendente, agora em celebração de dança.

Ronaldo Werneck viaja sempre, no som, na letra, no espaço, nas associações. “Cadê Teresa” exalta a Paraíba. Quando o poeta se encontra na Bahia, temos “Matusalém no Pelourinho: Caymmi então em seu caminho”.

Em obra de Ronaldo Werneck não poderia faltar gente de Cataguases. Está em todo canto, mas particularmente em “Legenda”. Em páginas adiante, feliz reverência à poeta Lina Tâmega Peixoto, em “Lina lê-se em ardósia”.

Mas o Rio de Janeiro também haveria de fazer figura na coletânea Minerar o branco. É o caso de “VateCínio” . Menos efeito nos faz o “Eleva/dor”, trocadilhesco demais, criador de menos.

Tal é, em síntese perambulante, o novo percurso de Ronaldo Werneck. Este, uma vocação, uma carreira, um destino para a poesia. Viaja sempre, pelo mundo natural e imaginário, sem deixar de ser poeta em nenhum instante.

* Crítico literário, membro da Academia Paulista de Letras e presidente do conselho da União Brasileira de Escritores



16:30 - 19/06/2009


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