sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Multiplicação dos complexos culturais em BH

Multiplicação dos complexos culturais em BH

Carlos Lúcio Gontijo


OS ESPAÇOS culturais se multiplicam em Belo Horizonte, especialmente na área central da cidade, onde vários imóveis foram transformados em centros culturais nos últimos anos e, ao que parece, com a criação do novo centro administrativo pelo governo do Estado, teremos uma surpreendente multiplicação dos complexos destinados à cultura – o que por si só não resolve a falta de patrocínio enfrentada pelos verdadeiros agentes culturais: os artistas plásticos, os músicos, os artesãos, os atores, as companhias teatrais, os poetas, os escritores etc.
A SIMPLES abertura de novos espaços destinados à apresentação do propalado (mas tão desvalorizado) bem cultural pode ser tomada por desavisados como o surgimento de uma espécie de céu de brigadeiro, entretanto a realidade é que a cultura ainda vive sob a triste tempestade moral do pires na mão e do incoerente ato de assistir à liberação dos escassos recursos de que dispõe para os chamados artistas de ponta, que, apesar de detentores de carreiras consolidadas, não abrem mão do dinheiro público (Caetano Veloso, que o diga!), ao qual chegam com todas as facilidades proporcionadas pelo exercício do jogo de influência possibilitado pelo prestígio que ostentam.
DESSA FORMA, aos observadores mais apressados pode parecer que estamos no limiar de uma magnífica revitalização e resgate da vocação cultural do Centro da capital mineira, porém é bom que todos atentem para o fato de a área já abrigar, por exemplo, alguns teatros que sobrevivem a duras penas.
OU SEJA, o problema cultural não está na falta de palcos formais de apresentação, mas na ausência de investimento no produtor de cultura – o artista –, que não encontra patrocinadores, uma vez que a Lei Rouanet, equivocada e erroneamente, favorece a captação de recursos (quase que exclusivamente) por autores conhecidos ou focados pela mídia, pois o empresário, antes da análise cultural, tem como objetivo dar projeção à sua logomarca, ao produto que fabrica e comercializa.
DISPONIBILIZAR locais para eventos artísticos talvez seja a questão mais fácil do setor cultural; a real dificuldade reside em alavancar recursos para incentivar a montagem e apresentação de peças teatrais, exposições e impressão de livros, pois há todo um cenário de custos, inclusive no campo publicitário, para atrair um público cada vez mais voltado aos apelos do grotesco, trabalhos culturais explicitamente descartáveis e de discutível valor como ferramenta capaz de auxiliar na formação ou construção de um cidadão mais consciente e melhor.
ENFIM, o incentivo à cultura vai (e está) muito além da abertura ou disponibilização de espaços culturais: é preciso investir em seus autores/atores por meio da democratização do acesso aos incentivos culturais, que hoje são direcionados e pretensamente orientados por uma espécie de política cultural imediatista do patrocinador/empresário – distante da necessária visão pública do bem cultural.
Carlos Lúcio Gontijo
www.carlosluciogontijo.jor.br

Um comentário:

  1. Meu caro amigo CLG, para quem tem fome de cultura os "reustaurantes" (leia-se: espaços) culturais populares, mas ao mais famoso cliente, ou ao que se sujeitar a sair de lá, com "estômago cheio", e exalando propagandas pelos poros; todos os bonus. É uma lástima o nosso Brasilzinho!

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